Pelos faróis de navegação,
há uma sensação imediata da chamada carga, o carrego e a expressão deliciosa da
“estrela a beber água”. Na proa, os 12 pés estão muito lá para baixo. Cá em
cima, a cavala, muita, às toneladas. Não há mais nenhuma traineira no cais. A chegada
é solitária. Está tudo a postos. Perto de 20 homens vão conseguir processar 35
toneladas de cavala em apenas 3 horas. Confusão não existe. O Mestre opera a
grua de descarga das caixas isotérmicas, as chamadas dornas. Tem um sorriso contido. Quase não se percebe. Dele. Quando a
luz deixa, as farripas de cabelo, suadas e coladas à testa, perdem a vergonha e
mostram-se para além da pala do boné. Orgulho. O cenário é apocalíptico ao
senso comum, mas, passados meros segundos, aquela pseudodesorganização funciona
ao milésimo. Todos sabem onde estar e o que fazer. Aqui há uma companha. E, numa
voz de comando, o Mestre manda soltar amarras para mais uma faina.
Cavala
(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)