quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Pena solta

Em dia de temporal regresso à pena. A traineira não vai sair. O vento e a vaga não o permitem. A incerteza deste ofício ganha novos contornos, desenhados pela agrura do Inverno. A esperança em melhores dias passa pela previsão meteorológica. Até as águas ficarem calmas, não se ganha. Resta-nos esperar e contar com o ombro amigo da paciência, amarrados a terra, como o barco à amarra. Agarrado a esta pena, a memória transporta-me até outras penas, deixadas por visitantes dos ares em tempos de faina. De acordo com alguns Mestres do antigamente, ver uma pena em cima da rede era sinal de mau agoiro. Nunca me explicaram. Segredo solene. Não sei por que motivo. Não sei qual a razão. Mas sei que quem não a removesse das malhas do sustento arriscava-se a uma dura reprimenda. Essa superstição ainda hoje persiste. Volta e meia, a conversa das penas vem a tona. Hoje não as conseguimos ver. O temporal não deixa.
Memória

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

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