sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Cores

Trinta e cinco toneladas de cavala. Azáfama de homens e máquinas. Caixas e cabazes. Escamas até aos cotovelos. Gelo e água salgada. Sorrisos e braços no ar. Camiões e empilhadores. Gotas de suor nas fontes. A espera terminou. A Luís Adrião voltou ao Mar e o seu regresso trouxe todas estas cores à aguarela do Porto de Sesimbra. Para trás ficaram não só os 15 dias de paragem forçada, mas também alguns azares no início da semana. Na quarta-feira, um enorme cardume de cavala – qualquer coisa como 60 toneladas – ficou cercado e… a rede não aguentou! Em instantes, o peixe fugiu ao destino que parecia certo. Ficámos sem a cavala e com a rede danificada. Com a ajuda e a solidariedade dos camaradas de outras traineiras, conseguimos remendar tudo a tempo. O regresso à faina era há muito desejado.
Regresso

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Contra-relógio

Numa autêntica corrida contra o tempo, os mecânicos trabalharam durante o fim-de-semana e vão continuar ao longo deste dia. Incansáveis e pacientes, com as suas mãos de dedos grossos enegrecidos do óleo, procuram montar as peças do motor no seu devido lugar, manuseando as mais diversas ferramentas com mestria e agilidade únicas. São centenas de parafusos, uns maiores, outros menores, que agora voltam à sua função, apertados ao décimo de milímetro, respirando o contentamento do regresso a casa. A Luís Adrião já desceu do estaleiro e a rede está embarcada, devidamente preparada para a faina. A companha também preparada está. O pessoal de terra vai reparando um ou outro buraco na rede, dedilhando malhas, de agulha em riste. Todos juntos preparam o tão ansiado regresso ao Mar. A espera está a chegar ao fim.

Quase

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ouço o Mar

Vamos na segunda semana de paragem forçada. Algumas peças já chegaram, outras ainda não. Os dias esguios de Novembro escapam entre os dedos. Esperamos. Vou à janela e ouço o Mar. Esperamos. Vou ao café e ouço o Mar. Esperamos. Vou dar um passeio e ouço o Mar. Esperamos. É ele, o Mar, em assalto permanente, sempre a fustigar os sentidos, a memória e a vida. Saudade. Há aqui algo que não se consegue explicar. Sente-se. O apelo e o aliciamento são constantes. Há saudade de sair do porto rumo ao imprevisto, da maresia misturada com aromas da terra e da serra, das vozes entre camaradas, das alegrias e das tristezas partilhadas numa ilha de madeira, dos sorrisos e das gargalhadas, da azáfama na hora da chegada ao cais. E do peixe, sempre o peixe, do som dos rabos a bater, das escamas a saltar, daquele perfume de frescura, da satisfação e do agradecimento por mais uma dádiva da Natureza. Esperamos.

Saudade

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Azar

A Luís Adrião está doente. Muito doente. A máquina que lhe dá vida e lança as suas cores garridas pelos mares revela sintomas graves. Ainda esta semana, a traineira terá de voltar ao encalhe, em terra firme, a fim de ser retirado o motor. A reparação só pode ser realizada na fábrica. Não há nada que se possa fazer. Não se sabe quanto tempo vai demorar. Esperemos que seja breve e que regresse ao Mar quanto antes. Até lá, temos de ir governando a nossa vida como podemos. Como hoje me confidenciou um respeitado Lobo do Mar, “o pão de véspera nunca fez mal a ninguém”. Acredito que tudo se resolverá e que melhores dias virão. Fica a promessa de continuar a dar notícias e a contar as histórias e as estórias da mui nobre Luís Adrião quando regressar ao Mar.

Encalhe

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)