quarta-feira, 19 de março de 2014

Latência

Dia 14 de Março de 2011. A minha realidade mudou, mas o meu coração continuava - e continua - a ser o mesmo. Começara um novo desafio. O regresso às origens, um orgulho muito grande que sempre me acompanhou por outras estações e apeadeiros de vida. Decidi embarcar, quando outros me tentavam convencer para zarpar de um País que é o meu. A minha regularidade por aqui tem sido irregular. A minha regularidade na vida real tem sido irregular. Engane-se quem pense que manda na vida; a vida é que manda em nós. Como já lavrei nesta janela, esta não foi a vida que escolhi, mas sim, a vida que me escolheu. Mas não deixo de viver, de lutar, de vencer. E, sobretudo, de ser feliz, muito feliz. Três anos volvidos, Obrigado a Todos, mas permitam-me um agradecimento especial ao Meu Pai, Mestre Carlos Carvalho.

 
Destino

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

sábado, 19 de outubro de 2013

Vivo

Penso em tudo e não penso em nada. O olhar abre os portões de todo um universo que faz os sentidos fazerem sentido. Sinto. Não me canso. Deixo-me perder. Gosto e recosto-me. Suspiro. Esqueço. Vivo. Agradeço. 

 Paz  

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

quinta-feira, 14 de março de 2013

Paragem

Amanhã será dia de paragem. Até ao final do mês. A Luís Adrião marca rota com a já habitual reparação sazonal. Não alheio a esta pausa está o facto do defeso da pesca da sardinha ainda estar em vigor. Só a partir de Abril será possível regressar às capturas deste peixe tão nosso. Entretanto, a traineira ficará no estaleiro, onde irá tratar das feridas de meses a fio a palmilhar milhas e a trazer bom pescado.


Feridas

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

Viagens

Esbatidas no tempo, as longas viagens até Cascais permanecem bem vivas na memória. Na altura, era lá que íamos ao encontro da sardinha. Em Fevereiro navegámos no seu encalço por outros mares, mas só até a meio do mês. Daí em diante, o período de defeso forçou-nos a orientar a pesca no sentido de outras espécies. A cavala desapareceu e entrou em cena uma pequena personagem que dá pelo nome de carapau, o jaquinzinho, por nós apelidado de pelim. Para reflexão fica o valor mais baixo a que foi vendido em lota: 10 cêntimos por quilo. Mas a persistência acaba sempre por colher os seus frutos. Quando já estávamos prontos para arrancar a folha do calendário, as águas e os dias frios trouxeram consigo o biqueirão, espécie particularmente apreciada pelos espanhóis e que nos fez respirar de alívio em tempo de balanço mensal.


Encalço

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

Esperança

A vida continua. Para trás ficou um ano que não nos foi ingrato. Aproveitando a maré, a entrada em 2013 aconteceu naturalmente, deslizando sobre a espuma e recolhendo toda a maresia intensa dos dias mais frios. As pescarias de Janeiro, os lances, como nós as chamamos, sorriram à companha da Luís Adrião. A sardinha foi rainha. Dia após dia, desfiando horas imensas de labuta, o Mar recebeu-nos nos seus braços e foi amigo. O mesmo não se poderá dizer da semana que passou… A força da Natureza, aliada à inclemência de um oceano revolto, deixou-nos cinco longos dias em terra. Sem peixe. Sem sal no corpo. Sem pão. O Mar obrigou-nos a um puro exercício de contemplação das suas expressões mais fortes e rudes. Demonstração de força da qual temos real noção. Respeitámos. Obedecemos. Não soltámos amarras. Mas há sempre luz. Há sempre esperança de que amanhã será melhor.


Luz

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

Dois

Parece que foi ontem. Passaram dois anos. A Vida na Traineira está aqui. Quando olho para trás, sinto um enorme orgulho em poder partilhar as experiências do quotidiano de uma profissão tão nobre, mas, muitas vezes, incompreendida. O mesmo sentimento nutro por todos aqueles que comigo trabalham. Aqueles que passam mais tempo comigo do que com as suas famílias. Idades, percursos de vida, gostos, feitios e origens diferentes. Tudo conjugado numa traineira de 22 metros. São verdadeiros camaradas. Cada um com as suas particularidades, todos com o mesmo objectivo: o sustento. Passando pelo passado, mas olhando para o futuro, decidi assinalar a data com três novas estórias. Foi a melhor forma que encontrei para agradecer a todos. Obrigado por terem subido a bordo de A Vida na Traineira.

 

Companheiro de horizonte


(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Estrela Dalva

Zarpámos no domingo à noite. Ainda trazíamos o corpo habituado às andanças de fim-de-semana. À hora marcada estávamos a bordo e soltámos amarras. O rumo ditava o destino até Sul. No entanto, não sabíamos o que nos esperava… A rede atirou-se à cavala. Muita. No final do lance, a vista perdia-se pelo peixe que o nosso barco não poderia comportar. Chamámos o Jonas David, do Mestre Márinho. Quando demos por nós, estávamos três barcos a carregar: Luís Adrião, Adrião Luís e Jonas David. E havia aquele som de rabos a chapinhar na água e de salpicos de salmoura misturados com escamas minúsculas, para além da algazarra dos homens. Entretanto, na azáfama do trabalho, um gancho de inox fez questão de escrever mais uma história no meu rosto a tinta de sangue. Ossos do ofício. Estava tudo a correr bem, até que nasceu a Estrela do Dia, também conhecida por Estrela Dalva ou, simplesmente, o planeta Vénus. O instinto do peixe ditou que era hora de ir embora e meteu a cabeça às profundezas. Impossível imaginar a força de milhões de pequenas cavalas, face à força de homens e máquinas. A rede cedeu. As cavalas ganharam. Tivemos de nos conformar com o que tínhamos a bordo. Encetámos a viagem de regresso a casa, mas, ao nascer do dia, a máquina da Luís Adrião cedeu. Fomos obrigados a ser rebocados. Mas chegámos a bom porto e com bom peixe.

Dia

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)