quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Ao milímetro

Em tempos idos, o Mestre gritava “à feição” para anunciar aos camaradas a ordem de largada da rede. A expressão era passada de boca em boca até toda a companha estar preparada. Hoje, o simples toque num botão é suficiente para pôr a traineira num bulício. Quando a buzina toca, todos deixam o que estão a fazer para ocupar os seus postos. Ficam descansos suspensos, conversas por acabar e telenovelas a meio. Enquanto a traineira prepara o melhor local para iniciar o cerco, aos olhos comuns, parece estarmos perante uma tremenda confusão. No entanto, todos sabem exactamente onde estar, não há encontrões nem atrapalhações. Quando a rede começa a sair pela popa da traineira, há concentração e trocam-se expectativas sobre mais uma faina. Contempla-se o mar, o céu, a terra ou, simplesmente, aguarda-se com tranquilidade o final do cerco. No convés está tudo preparado ao milímetro. Cabe aos homens e ao destino fazerem o resto.

Aprumado

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

4 comentários:

  1. é justamente do balanço que tão bem descreves que sentem a falta os bravos de quem falo em http://josespadafeio.blogspot.com/2011/08/das-terras-de-mar.html#links

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  2. Um pouco romântico e poético comparado com a realidade...

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  3. Ao rever as fotografias do teu blog esta noite tive um pesadelo horrível sonhei que me encontrava na praia da califórnia na areia, tinha menos 15 anos do que tenho hoje, e as pernas cobertas em areia com o gosto do sal na pele. Digo pesadelo porque senti que sonhei muito atrás e cada vez que sonho no passado longinquo, é um pesadelo.
    Enfim... o poder que as imagens têm e as recordaçóes soltas na nossa memória dáo nisto.
    Mas apesar de tudo o sonho foi bom porque a praia de Sesimbra é estranhamente apetecivel especialmente nas primeiras horas da manhá e na última hora da tarde, em pleno Veráo, quando todos se encontram de saída e a praia é só nossa.
    Náo tem nada haver com o teu tópico mas, para quem vê de fora e se apaixona pelo mar sim acaba por ser poético. Afinal, o mar acaba por nos tornar todos muito semelhantes e afástanos de alguns detalhes bastantes vincados na nossa sociedade, quando está revolto náo escolhe por estatuto, fortuna ou caracter.

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