segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Na escuridão

Final de tarde. A proa está apontada a Sul e navegamos tranquilos num mar de Verão. A melodia das ondas à nossa passagem embala-nos até ao local de pesca. Duas horas depois, lançamos as redes ao mar e o primeiro lance rende cavala, carregada no barco de apoio, mais conhecido por enviada. No entanto, uma brisa fresca no rosto salgado desperta para a mudança de tempo. De olhos no mar, há vozes que anunciam a chegada de nevoeiro. Arriscamos e fazemos mais um lance. O cerco a fechar sobre o peixe e a névoa a fechar sobre nós. Chega a noite e acendem-se os primeiros projectores do mastro. Com eles, sombras gigantes ganham forma sobre o nevoeiro denso. A visão parece alcançar apenas recortes de preto e branco. Neste jogo de xadrez, sob a noite e a névoa, conseguimos fazer xeque-mate ao peixe. Mais cavala. O regresso, esse, na total escuridão. Nem uma estrela, nem um ponto que nos pudesse orientar à vista desarmada. Os aparelhos de navegação deram a ajuda necessária. Na chegada à baía fomos recebidos por sinais sonoros graves e robustos. Era uma corveta da Marinha Portuguesa ali fundeada. Sesimbra estava mergulhada na penumbra. Só depois da entrada no porto vimos luzes, as do cais, as de terra. Prosseguimos a labuta. Era hora de descarregar o pescado.

Cinzento

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

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