terça-feira, 6 de setembro de 2011

Proa ao vento

Estou na enviada. Somos dois. Seguimos para Norte, na esteira da traineira. Há poucas palavras, sinónimo de início da semana. A expectativa é maior. A incerteza é a mesma. Cruzamos o Morro e o vento nasce da rocha calcária, tirando o pó à madeira. Cunhos reluzem ao sol. Cordas e tralhas ganham outras tonalidades, numa celebração tornada comunhão com o sal que lhes bafeja. Na Pedra de Arcanzil, uma pequena furna espirra espuma ao passar da ondulação. Agora, o sinal é evidente: cruzar o Cabo Espichel não será fácil. Mas avançamos. Aproados ao vento e à ondulação, conseguimos passar o Cabo para Norte. Na cova da vaga deixamos de ver a traineira, para depois voltar a aparecer, lá em cima, sobre um manto branco acossado pelo vento. Passamos o Meco, a Lagoa de Albufeira, a Fonte da Telha e a Costa de Caparica. Aventuramo-nos na Barra de Lisboa. Não há peixe, nem uma escama. O Mestre manda mudar de rumo para Sul, até à Costa da Galé. Serão quatro horas de caminho em busca de melhor sorte.
Acossado

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

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