Hoje deixei o meu pensamento fluir, sem amarras nem grilhetas. Enquanto reparava na pele que me caía das mãos, dei por mim a sonhar acordado. Imaginem um país voltado para o Mar, em chamada crise, mas em que ao cais de um porto de pesca chegam toneladas e toneladas de peixe. Pela metade, esse peixe regressa ao Mar, morto, sem utilidade. Não há quem compre – apesar da pechincha por quilo -, não há quem tenha capacidade para o escoar para os recantos da pobreza encapotada desse mesmo país e até para fora de portas. Reflicto. Nesse mesmo país, assisti ao corridinho de quem reclamava um pacote de massa a uma instituição, mas que toma o pequeno-almoço fora, tem 500 euros de ouro no corpo, tatuagens da moda e unhas de gel a preceito, sem falar no DVD, na consola e na TV por cabo. Esse é o tal país em que se apontam facas a “ele”, um senhor lá para cima que se chama Estado, mas que somos eu e tu, nós e vós. Lembrei-me que, talvez, há uns bons anos, esse país não existisse no imaginário dos inocentes e dos permeáveis, mas apenas no dos realistas e dos pessimistas, para o bem e para o mal. Amanhã é outro dia. Qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.
(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)
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