quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Azar

A Luís Adrião está doente. Muito doente. A máquina que lhe dá vida e lança as suas cores garridas pelos mares revela sintomas graves. Ainda esta semana, a traineira terá de voltar ao encalhe, em terra firme, a fim de ser retirado o motor. A reparação só pode ser realizada na fábrica. Não há nada que se possa fazer. Não se sabe quanto tempo vai demorar. Esperemos que seja breve e que regresse ao Mar quanto antes. Até lá, temos de ir governando a nossa vida como podemos. Como hoje me confidenciou um respeitado Lobo do Mar, “o pão de véspera nunca fez mal a ninguém”. Acredito que tudo se resolverá e que melhores dias virão. Fica a promessa de continuar a dar notícias e a contar as histórias e as estórias da mui nobre Luís Adrião quando regressar ao Mar.

Encalhe

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

3 comentários:

  1. Coragem.
    E que o vento apresse esse regresso.
    Um leitor,
    LVilela.

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  2. Espero que o Luís Adrião melhore, entretanto que histórias pode haver em terra? conserteza que o mui nobre precisa de alguém que cuide dele e dos seus pertences; o que faz a campanha? enquanto espera? e já agora o que fazem quando há temporal? qual é o meio de subsistência, nesse cenário? é muito importante que se divulguem essas histórias, poís elas fazem parte do nosso quotidiano e no entanto são relegadas para segundo plano como se não valessem nada,está no tempo de reverter tal situação, a auto-estima é aquilo que construímos e aquilo que damos a conhecer, aos outros e ao mundo, e é nas pequenas coisas que se começam grandes mudanças.
    Abraço

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  3. Ilustre Alice Alfazema

    Em primeiro lugar, agradeço o seu comentário e as suas visitas habituais, assim como a citação no seu blog que muito honrou e prestigiou A Vida na Traineira. A traineira Luís Adrião está a melhorar: o motor já foi retirado da embarcação e encontra-se em reparação. As melhores estimativas apontam para uma semana de paragem. Quanto às suas questões, todas se resumem a uma resposta. Em caso de avaria ou temporal, à companha resta esperar. Para nós, Pescadores, não há qualquer subsídio para estes casos. A subsistência encontra refúgio na Fábula da Formiga, ou seja, nos dias em que ganhamos, temos de nos lembrar dos dias em que não poderemos ganhar, como são exemplo estes dias pelos quais estamos a passar. Como já referi em posts anteriores, a incerteza é um factor sempre presente nos nossos dias, nas nossas vidas, e as nossas famílias sabem disso e aprenderam a viver com isso. Não há mágoas nem lágrimas a carpir, apenas esperar por melhores dias e que o Mar nos volte a brindar com bons lances. Muitas vezes também trabalhamos mais de 12 horas e não ganhamos nada. Por quê? Porque o peixe fugiu e não ficou na rede. Há sempre esse risco, mas que faz parte desta nossa realidade, sendo por todos aceite com normalidade. Contra os caprichos da Natureza nada podemos fazer. Nestes dias aproveitamos para estar mais algum tempo com as nossas famílias e com todos aqueles que nos são queridos. Não há dinheiro que pague isso. Quando estamos no Mar, neste ofício da traineira, só dormimos em casa dois dias por semana. Agora, apesar de não estarmos a ganhar dinheiro, estamos a ganhar muitas outras coisas que o dinheiro não consegue substituir. Espero que tenha conseguido responder às suas questões.

    Cumprimentos e regresse sempre

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